Que fascínio esconde Amy Winehouse?

São Paulo, 15 de janeiro de 2011. Sob um céu estrelado e uma temperatura pra lá de agradável, fãs se engalfinham para ver a atração mais aguardada do Summer Soul Festival: “Ladies and Gentleman, introducing Mrs. Amy Winehouse…” nome anunciado pausadamente e com tamanha ênfase pelo backing vocal da cantora que a histeria coletiva tomou conta da platéia logo na entrada da musa ao palco, montado no sambódromo do Anhembi. Mas não antes de surgirem muitas vaias devido ao atraso de Amy: marcado para começar pontualmente às 11h15, ela foi a única a iniciar a apresentação totalmente fora da pontualidade britânica, atrasando mais de 20 minutos sua estréia em São Paulo, chegando inclusive a levantar suspeitas de que não se apresentaria naquela noite. Mas ela tem tanta sorte que até a chuva, que não parou de castigar a cidade por mais de 7 dias seguidos, deu uma trégua e abriu um céu estrelado com direito até a uma linda lua minguante.

Tímida ou simplesmente “blasé”?

E de repente lá estava ela, aparentemente deprimida no show de encerramento da turnê no Brasil. Mais da metade do repertório do show de Amy Wino foi composto por músicas tristes ou suaves “baladinhas” que aos poucos introduziu no público um certo baixo astral com sua presença. Amy pouco se esforçou para sorrir ou agradar, e reconheceu isso no único momento em que falou com a platéia, perguntando se todos estavam se sentindo “ok“. Como a resposta veio fraca, ela brincou dizendo que perguntaria mais uma vez e, sorrindo, disse que se esforçaria para estar mais em sintonia com seus músicos.

O que mais surpreende na postura de Amy Winehouse, no entanto, é como uma mulher com uma voz tão maravilhosa pode ainda fascinar um público já cansado de ouvir sobre ela apenas notícias de escândalos, das mais diversas ordens. Okay, sabemos do passado – ainda presente, aliás – nada exemplar da cantora, porém mesmo com uma postura tão blasé, porquê ela ainda é tão venerada por onde passa?

As dancinhas e rodopios de Amy soam tão pueris que chegam a atribuir a ela uma certa timidez no palco. Se ela faz “tipo” ou não, é difícil saber. Mas além da belíssima voz que possui, a atual musa do Rhythm & Blues domina o palco com uma presença marcante que deixa de lado qualquer polêmica envolvendo sua vida pessoal: se ela cai ou esquece a letra de uma música, pouco importa, ela cativa de qualquer jeito. Já virou um mito. E terá de se cuidar muito daqui para frente se quiser manter seu posto, seja pelo bem da própria carreira como cantora ou pela indignação dos que não se conformam de ser tão glorificada fazendo tudo do jeito que bem entender. Talvez o fascínio por ela venha justamente daí: Amy é o que é, sem rótulos para si mesma e sem se importar com o que quer que seja, nem mesmo os fãs, em um mundo cada vez mais dominado pela aparência e pela superficialidade no show business.

Abaixo a apresentação da cantora no Recife – e nesta um tanto animada, aliás – interpretando “Tears Dry On Their Own“, penúltimo show da turnê no Summer Soul Festival 2011:

Nota póstuma: a imprensa brasileira, mais precisamente a paulista, massacrou Amy Winehouse pelo que considerou um fraquíssimo desempenho em seus shows no Brasil. Não superou as expectativas criadas em torno de sua vinda para cá. Mas um outro ponto de vista, muito curioso por sinal, de Vitor Knijnik, chamou-me a atenção pelo texto bem escrito e sobretudo pela criatividade na transmissão da mensagem no “Blog da Janis“. Hilarious.